Kindle paperwhite: Prático como você

A Gincana

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Antes das férias do meio do ano, a escola promovia uma gincana com os alunos, de todas as séries, para promover a integração entre os membros do quadro educacional. Era a grande oportunidade dos meninos conhecerem novos amigos, de enfrentar os mais velhos e principalmente conseguir uma aproximação com meninas que normalmente os ignoravam durante o ano letivo.

Isso funcionava pra quase todo mundo, menos para Eduardo. Claro que com uma única exceção, ele não conhecia novos amigos e não se aproximava das garotas, apenas ganhava mais uma oportunidade para ser achincalhado pelos mais velhos e temer suas presenças, algo comum em seu dia a dia.

Naquela manhã, Eduardo seguiu pra escola com o mesmo desânimo dos dias de educação física. Não tinha o menor apreço pela prática esportiva, sempre era o último a ser escalado para os times e invariavelmente saia perdedor de todos os confrontos. O garoto faria 15 anos nos próximos dias e, de fato, não tinha muito a comemorar.

A escola formava sempre três equipes, e as competições envolviam todas ao mesmo tempo. Os alunos eram alocados nas equipes de forma a equilibrar a disputa, porém, cada líder escolhia quais membros participariam de cada atividade.  As competições envolviam desde partidas de basquete, vôlei e futebol, a corrida de saco, jogo de argolas e brincadeiras menos competitivas.

Eduardo passava grande parte do evento assistindo e torcendo por sua equipe, já que raramente era chamado para as competições e quando participava era de brincadeiras de menor importância, que não atraiam a torcida dos outros alunos. Ficava mais no seu canto, conversando com um ou outro e claro, observando Mariana. Mariana era mais velha que Eduardo, estava uma série acima, e provavelmente sequer imaginava que ele existia. Mais alta que a maioria das meninas, já com um corpo quase de mulher, a pele branquinha contrastava com os cabelos negros.

Eduardo estava na mesma equipe de Mariana, e não só a assistia como torcia por ela em todas as competições, ela era “fera”, ganhava quase tudo e era sempre escalada pelo líder de equipe. A gincana estava chegando ao fim, e faltava uma única disputa para se determinar a equipe vencedora. Todas estavam com números próximos de pontos, os vencedores conquistariam o primeiro lugar.

Os professores anunciaram que a última disputa seria uma competição de dança, e que cada equipe tinha que escolher um casal para representa-la. Mariana sempre dançava nas festas e foi a primeira a ser escolhida e para formar o seu par, a equipe escolheu André, o mais velho da turma, que fazia o estilo “popular” e certamente formariam um par imbatível.

Após apresentarem as duplas, cada equipe se posicionou para a disputa. E foi aí que veio a surpresa para Eduardo. Os professores lembraram que o regulamento da gincana previa que cada membro da equipe deveria participar de pelo menos três competições, e que dois alunos de equipes diferentes haviam disputado apenas duas uma menina da equipe azul, chamada Célia, e o próprio Eduardo da equipe amarela. A menina que formava a dupla da equipe azul foi retirada para a entrada de Célia, e André teve que dar a vaga a Eduardo na equipe amarela.

Eduardo ficou apavorado, ele não sabia dançar absolutamente nada, e ainda formar par com Mariana? Seria um desastre total e mais uma vergonha diante dos colegas. As regras foram anunciadas, os pares dançariam uma única música, contudo, as meninas dançariam com os pés por sobre os pés dos meninos, e quem ficasse mais tempo equilibrado ganharia o confronto. Nem a facilidade da disputa deixava Eduardo menos apreensivo.

Mariana se aproximou e pisou em seus pés, a música começou a tocar e ele mal conseguia se mover. A menina era maior do que ele. Sua simples presença, já o deixava desconcertado. Ele podia sentir seu cheiro, o calor de seu corpo e os seios firmes de Mariana em seu peito, não havia a menor possibilidade de concentração. Eduardo suava frio, tentava se movimentar e pouco conseguia. Observava as outras duplas e todas muito bem equilibradas.

Ao tentar um movimento um pouco mais brusco, Mariana escorregou e quase foi ao chão. Eduardo a puxou pela cintura e a trouxe de volta para seu corpo. A menina sorriu e ele lhe sorriu de volta. Ela percebeu seu nervosismo e questionou porque ele tremia tanto e suava nas mãos, ela acabaria se soltando novamente. Ele explicou que não seria capaz de vencer a competição, estava nervoso e sua simples presença não o permitia alcançar um equilíbrio.

Uma nova volta e, Mariana se soltou novamente. De fato, perderiam a brincadeira se ele não se acalmasse. A menina voltou a segurar-lhe as mãos e disse: – Vamos conversar depois, tudo bem? Eu prometo. Mas agora vamos vencer esse jogo. – A menina voltou a pisar sobre seus pés, deu um beijo de leve em seus lábios e repetiu: – Vamos vencer!

Naquele instante, Eduardo ouviu sua mãe lhe chamando. Acordou afoito e percebeu que estava atrasado pra ir à escola e participar de mais uma gincana.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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