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Indubitavelmente, o primeiro torcedor era Fluminense

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Que me perdoem os céticos, aqueles que desandam a lutar dia após dia contra os fatos. Prefiro acreditar que contra fatos não há argumento que se faça válido.  Ouso dizer ainda, que a modalidade não seria a mesma sem o Fluminense. Não há como negar que o esporte existiria sem o Tricolor, assim como existiu antes de sua fundação, mas os fatos mostram que o esporte bretão seria bem mais pobre sem o Fluminense.

Após a fundação do Estádio das Laranjeiras em 1919, para que a Seleção Brasileira pudesse jogar o Sul-Americano do mesmo ano, todos os apaixonados pelo futebol passaram a frequentar suas arquibancadas, que antes mesmo de sua fundação oficial já abrigava os fervorosos amantes do Fluminense Football Club. Até então, o termo “torcedor” não se aplicava aos fãs do esporte. Nos países de língua inglesa, o torcedor é chamado de fan e na Itália de Tiffosi, algo como “sentir febre por seu time”. Já nos países de língua espanhola, eles são descritos como Hinchas, que vem do termo “inchar”, como se o corpo, o metabolismo mudasse ao assistir uma partida de seu time.

O escritor e cronista Coelho Netto, apaixonado pelas três cores que traduzem tradição, reparou que as moças que iam ao Estádio das Laranjeiras para assistir as partidas do Fluminense, tinham por hábito torcer os lenços e as luvas de renda que carregavam consigo, num ato que expressava nervosismo quando o Tricolor partia em direção ao gol e assim, em uma de suas crônicas denominou-as como “torcedoras”, feito que depois foi estendido por ele, a todos os outros no Estádio, tanto mulheres como homens.  O sociólogo Maurício Murad descreveu o fato no livro “A violência no futebol”:

[…] Numa crônica do início do século XX, o escritor e dirigente do Fluminense, Coelho Netto, disse que as mocinhas casadoiras torciam seus lencinhos de renda pelos jogadores preferidos dentro de campo, também pensando neles como pretendentes a marido. Essas mocinhas receberam o nome de torcedoras, e, em outra crônica, a expressão se estendeu a todos, homens e mulheres.

O jornalista, radialista e cronista esportivo Luiz Mendes, falecido em 2011, concedeu uma entrevista ao Centro de Tecnologia Educacional, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) onde relatou sobre a crônica de Coelho Netto:

[…] No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, principalmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fosse ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por volta dos 40º de temperatura, elas iam de luvas. Como o calor era muito grande, elas tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansiosamente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu na mão enquanto torciam. O Coelho Netto, que além de poeta e cronista era pai de dois jogadores do Fluminense: o Preguinho, que foi o primeiro homem a fazer um gol pela seleção brasileira em uma Copa do Mundo, e do Mano, que morreu em consequência de um jogo de futebol, levou uma bolada e acabou morrendo; pois o Coelho Netto escreveu uma crônica em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mulheres e dali a expressão pegou e nasceu a torcida. Havia quem dissesse que torcida vinha do fato de as pessoas torcerem os fatos, de o torcedor torcer os fatos a favor de seu clube, mas não foi daí que o termo veio não. Apesar de que quem torce, realmente torce as coisas e até distorce. Mas, na verdade, não foi por isso, foi mesmo pelo gesto das moças, principalmente, das que torciam as luvas entre as mãos.

O termo “Torcedor”, que hoje denomina todos os fãs de times de futebol em território nacional, foi usado pela primeira vez para denominar a torcida do Fluminense.  Os fatos endossam o registro do pianista erudito Arthur Moreira Lima:

– Assim como o primeiro homem era Adão, o primeiro torcedor era Fluminense.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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