Kindle paperwhite: Prático como você

A Modelo

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Sempre que passava em frente à escola de belas artes, lembrava-se do tempo de criança em que sonhava em ser pintor. Na verdade, sempre desejou ser um artista, imaginava suas grandes obras expostas em uma galeria, eventos luxuosos para seus lançamentos e o reconhecimento da mídia especializada.

Cresceu e não se tornou pintor, a vida seguiu outro rumo e, ao invés de pincéis usava as palavras como expressão de sua arte. Não era ainda um escritor famoso, mas batalhava para isso diariamente.

Certa feita, o questionaram sobre a diferença entre ser um grande pintor e um grande escritor, e ele respondeu “Glamour”.

Ainda hoje passava horas observando os alunos pintando na escola. Ficava impressionado com as modelos vivas, nuas, emprestando seu corpo à arte.

Sempre que podia estava lá, admirando a forma em que elas se dedicavam ao trabalho e os alunos pintando de forma dedicada seus corpos.

Em uma dessas visitas, observou uma modelo sendo retratada em um quadro. O rapaz que a pintava olhava cada detalhe de seu corpo e tentava de forma fidedigna simbolizar a moça. Esguia, de seios firmes, cabelos repicados, sem uma única imperfeição no corpo.

Passou mais de duas horas olhando o trabalho sendo realizado e quando tudo terminou dirigiu-se em direção ao aluno e o parabenizou pelo trabalho.

A modelo, já vestida o sorriu e também foi parabenizada. Contou sobre o sonho infantil de ser pintor, e ambos riram dizendo que ainda havia tempo para aprender a pintar. Ele agradeceu o incentivo, mas seu caminho já estava traçado, o que dava cores a sua vida, eram agora as palavras.

Ela queria saber um pouco mais sobre o que ele escrevia, e como o interesse era mútuo foram juntos a procura de um café, onde puderam compartilhar suas experiências. Após o café, trocaram telefones e combinaram um novo papo para qualquer dia.

Na semana seguinte, voltou à escola de belas artes e ela estava lá novamente. Outro aluno a pintava, e dessa vez observou um pouco menos o trabalho do rapaz para focar mais na beleza da modelo.

Imaginava o quão prazeroso seria para o pintor ver tão belas formas ao executar sua arte. Um escritor apenas imaginava suas musas, seus sonhos e desejos, não tinha tão perto de si a inspiração.

Ao término do trabalho, a modelo se recompôs e voltou a sorrir em sua direção. Saíram para mais uma boa conversa. Ele tomava café e contava sobre suas frustrações de não ter próximo a si a inspiração enquanto escrevia. Ela tomava um chá acompanhado de biscoitos de canela, observando atentamente suas palavras.

Ao saírem do café, já era noite. Caminharam pelas ruas do centro conversando sobre sonhos, inspirações e desejos.

Ela queria saber um pouco mais sobre seus escritos, e ele sobre sua arte, afinal, ela também era aluna da escola, emprestava seu corpo assim como pintava outros e outras modelos que faziam o mesmo.

Não compreendia a postura do escritor em acreditar que sua arte era menor, pois ela mesma se emocionava muito mais com os contos e poesias que lia, do que com os quadros que pintava e inspirava.

Enquanto preparava-se para a despedida, disse-lhe:

– O que acha de se tornar um pintor por uma noite?

Ele não entendeu bem a pergunta e respondeu que não tinha pincéis, quadros e nem nada que pudesse fazer dele um pintor por uma noite. Ainda que pegasse com ela todo o aparato necessário, sabia que não seria capaz de pintar como gostaria.

Ela respondeu que tudo que ele precisava para fazer sua arte estava com ele, e a única coisa que poderia lhe faltar, estava ali agora, bem à sua frente: A inspiração.

Adentraram ao apartamento e seguiram rumo ao escritório. Ela, apontando para a máquina de datilografia, disse-lhe:

– Sente em sua mesa e comece a escrever – como quem expedia uma ordem.

Ele pegou uma folha de papel ofício, e começou a preparar a máquina para que pudesse começar a escrever.

Era engraçado que ao lado de um computador, ela quisesse que ele usasse a máquina, que na maioria do tempo servia apenas como um adorno em seu escritório.

 Começou a datilografar as primeiras palavras enquanto ela o observava, sentada à frente de sua mesa.

Enquanto escrevia os primeiros parágrafos, ela se levantou e, minuciosamente, abriu cada botão de sua blusa. Deixou que a mesma escorregasse por seus ombros caindo ao chão. Soltou a alça do sutiã e revelou os belos seios para o seu escritor.

Em instantes estava completamente nua em sua frente. Ele seguiu escrevendo. Parava por instantes, observava suas formas e voltava a datilografar. Ela seguia imóvel, nua na penumbra, o pouco de luz vinha da luminária próxima a ele.

Passaram cerca de uma hora na mesma situação, ele a observava e escrevia, ela seguia em silêncio, estática, servindo de inspiração para que ele pudesse exercer sua arte como desejava.

Quando terminou, tirou o papel da máquina, o dobrou ao meio e o colocou sobre a mesa, dizendo:

– Terminei, pode se vestir.

Ainda nua foi em sua direção, pegou o papel e retornou. Buscou o casaco no chão e guardou o que ele havia escrito.

– Todos os quadros em que sirvo de inspiração, ao final, terminam com outra pessoa, nunca ficam comigo. Desta vez a obra de arte será minha. Minha beleza eternizada em palavras ficará pra sempre em minha posse – disse, dirigindo-se mais uma vez para onde estava o escritor.

Aproximou-se em silêncio, acariciou seus cabelos e sussurrou em seu ouvido enquanto sentava em seu colo:

“Venha agora tomar pra si sua mais nova inspiração”

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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