Kindle paperwhite: Prático como você

Não, não, não… Não brinco mais carnaval

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Fui uma criança que cresceu pulando carnaval nos blocos da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro: Bola Preta, Cacique de Ramos e Bafo da Onça. Estava sempre lá, vestido de palhaço, super-herói, bate bola ou qualquer outra coisa. Depois que cresci, passei a ver pouca graça nas marchinhas e nos blocos, confesso que a violência e o consumo excessivo de drogas e bebidas alcoólicas também contribuíram para o meu afastamento da vida de folião.

Dizem que o carnaval é a festa do povo, e deve ser mesmo, afinal é financiado com o dinheiro dele, de impostos que deveriam estar sendo investidos em escolas e hospitais. Uma festa pagã e preconceituosa. Não concorda comigo? Ora bolas, vejam bem, “mas já que a cor não pega mulata, mulata eu quero o seu amor”. Podemos amar e nos deliciar com mulheres negras, contanto que a pele escura permaneça com ela, não passe pra mim, como uma doença. Se isso não é racismo da pior espécie, não sei mais o que é.

Acha que é só racismo? Não, temos também a homofobia nessas marchinhas: “Maria sapatão, de dia ela é Maria e de noite ela é João”, ou então, “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é?”. A festa é do povo, do povo heterossexual, que usa a festa para propagar seu preconceito contra os homossexuais. Se não bastasse a homofobia e o racismo, o que não falta é apologia à violência. De todos os tipos, desde o índio que te assalta, com ameaça de agressão, “Índio quer apito, se não der o pau vai comer” (E claro, o assaltante não faz parte da elite branca, nunca faz não é mesmo?), até a coação para que o folião alcoólatra possa saciar seu vício: “Ei você aí, me dá um dinheiro aí”.

Nem a terceira idade escapa das mazelas do carnaval. Se um senhor tem problemas de impotência, pois “a pipa do vovô não sobe mais”, por mais que ele se esforce para satisfazer sua parceira, termina sendo traído por sua companheira. Que mundo é esse? Onde está a tradicional família brasileira? Está liberado todo o tipo de perversão só porque é carnaval? Vale assediar até uma mãe que está amamentando, como em “mamãe eu quero mamar”? O cidadão tem a pachorra de orientar a lactante que dê uma chupeta ao seu filho para que o seio esteja disponível para o deleite do folião? Onde vamos parar?

Imagine você até onde vai à libertinagem durante esse tipo de festa. As mulheres não têm direito a sua própria vontade, estão lá apenas para saciar o desejo dos foliões, e nenhuma feminista surge para evitar esse absurdo? Pera lá, o cara aparece beija a mulher a força e um ano depois reaparece (um “stalker” carnavalesco) se achando no direito de assediar mais uma vez a vítima, que nada pode fazer, afinal “vou beijar-te agora, não me leve a mal, que hoje é carnaval”.

Eu quero é distância desse tipo de evento, que além de tudo ilude o leitor. Falta verba para a saúde, para a despoluição da Bahia de Guanabara, para a educação e para todo o resto. Tem taxista agredindo motorista do uber, ciclista sendo esfaqueado no meio da rua e o povo ainda tem a cara de pau de cantar “Cidade Maravilhosa”.

Obviamente essa crônica é um deboche ao mundo politicamente correto que assola as redes sociais. Esqueça um pouco a vida virtual, deixe o celular em casa (até para não ser assaltado) e vai brincar lá fora, afinal, hoje é carnaval.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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