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O dia em que fiz o Carrasco chorar

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Assistia a final da Taça Guanabara de 1984, nas arquibancadas do Maracanã, ao lado de meu pai.  O gol de Adílio para o Flamengo, ainda no primeiro tempo, decretou a vitória Rubro-Negra e destinou a Taça para a Gávea. Foi minha primeira dor como torcedor do Fluminense, eu tinha apenas sete anos e ainda não sabia lidar com a perda de um clássico para o maior rival.

Meu pai ao ver minhas lágrimas tentou me consolar: “Calma meu filho, fique tranquilo, porque nós vamos para a final, e o Assis vai marcar de novo, não tem porque chorar agora”. A profecia me deixou um pouco mais aliviado, afinal para mim naquela época, só existia Flamengo e Fluminense e não existia nenhuma possibilidade do Fluminense não estar na final daquele campeonato ao lado do Flamengo.

Chegada a final do Campeonato Estadual, assim como meu pai havia prometido, o Fluminense estava lá, disposto a ser novamente campeão. Eu tive febre, nervoso, ansioso por aquela final, não tinha condições de ir ao Maracanã. Meu pai foi sozinho ao jogo e novamente me prometeu a faixa de campeão. Ele confiava no Assis. Antes mesmo de adentrar ao Estádio, contrariando suas supertições, comprou a faixa de campeão para entregar a mim quando voltasse pra casa. Eu não duvidada do meu pai, e meu pai não duvidada do nosso camisa 10.

O jogo caminhava para o fim e o placar seguia inalterado, 0 a 0. Eu em casa ouvindo no radinho, esperando o gol do Assis que demorava a sair. Meu pai em suas orações pedia: “Vai Assis, faz um gol para o meu menino”. Dito e feito, após cruzamento pela direita, Assis de cabeça colocou a bola no fundo das redes do argentino Fillol. Festa nas arquibancadas tricolores, festa do menino com o seu radinho no tapete da sala. Assis estaria imortalizado como o “Carrasco” Rubro-Negro para sempre na memória e na história de todo e qualquer tricolor.

Anos mais tarde, já adulto, fui sozinho ao Maracanã para assistir o Fluminense jogar. Após a partida, fui encontrar alguns amigos no Bar dos Esportes, em frente ao portão 18 do Estádio. Chegando lá, entre os torcedores estava Assis. Sentei-me ao lado do ídolo e, entre um gole e outro em um copo de cerveja, pedi-lhe um autógrafo. Muito sorridente e com o semblante de ternura que sempre carregava, Assis autografou o meu ingresso. Aproveitei o ensejo e contei-lhe em detalhes a história do menino que aguardava seu pai trazer a faixa de campeão naquele Fla x Flu. Enquanto contava o que havia acontecido, Assis visivelmente emocionado tentava conter as lágrimas, e eu disse: “Obrigado Assis por não ter decepcionado meu pai e ter dado alegria aquele menino”.

Já com as lágrimas escorrendo, Assis me respondeu: “Obrigado a você menino, por me emocionar como eu te emocionei um dia”.

Assis me fez chorar mais uma vez ao falecer um dia após o aniversário de 37 anos daquele menino.  E quando me peguei perguntando o porquê de perder o meu ídolo neste domingo, não tardei em encontrar por mim mesmo a resposta:

Porque domingo é dia de Fla x Flu.

 

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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