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Por que a Rede Globo mutilou o filme sobre Tim Maia?

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Desde menino fui criado ouvindo muita música. Meus pais ouviam centenas de vinis e com isso ajudaram a moldar o fã que me tornei dos artistas nacionais. Acostumei-me não somente a ouvir, a paixão pela música me fez estudar instrumentos e partituras, assim como a história dos artistas que mais admirava. Venho vivendo devorando livros sobre o tema, matérias e revistas e, assistindo especiais e filmes que contam essas histórias.

Assim que vi o trailer do filme sobre Tim Maia fiquei ansioso para assisti-lo e o fiz logo que entrou em cartaz. Saí de lá admirado, emocionado e passei vários dias seguidos ouvindo músicas e mais músicas deste que considero um dos maiores artistas de nossa história. Quando a Rede Globo anunciou o filme em duas partes, imaginei que a emissora faria o que fez com o filme sobre a relação de Gonzaguinha e seu pai Luiz Gonzaga, dividiria o longa em duas partes e premiaria o público com mais um excelente filme. Não foi o que aconteceu.

Logo nos primeiros minutos percebi que o filme seria apenas um pano de fundo para a história que a emissora queria contar, juntando entrevistas de artistas contemporâneos de Tim Maia, uma espécie de “Por toda minha vida” em versão estendida. Grandes partes do filme não foram ao ar, e pior, algumas cenas foram acrescentadas com o ator que o interpretou no cinema, Babu Santana, falando como se fosse o próprio Tim Maia contando sua vida. Fiquei triste, porque falei tão bem do filme que muitos amigos e familiares assistiram na TV para conferir o filme e o que viram foi um arremedo do original.

Nas redes sociais a estratégia da emissora foi duramente criticada pelos internautas e até mesmo por Mauro Lima, diretor do longa metragem. Entre as muitas críticas, a mais evidente foi à tentativa da Rede Globo de proteger a imagem de Roberto Carlos, que no filme é interpretado como um artista egoísta que chegou a humilhar Tim Maia no auge de seu sucesso e só o “apadrinhou” quando precisou de uma música que seria incapaz de compor. Não entrarei no mérito da questão, até porque acredito que toda história tem três versões, a minha, a sua e a de verdade. O filme é baseado em alguns livros, como a biografia de Tim escrita por Nelson Motta, o livro escrito pelo cantor Fábio sobre os trinta anos de amizade entre ambos e até na biografia não autorizada de Roberto Carlos. Não vejo problemas no fato do Roberto defender seu ponto de vista e falar sobre o tema, mas não é digno inibir trechos do filme para a grande massa apenas para manipular e ocultar a versão que se não era a do Tim, era a versão daqueles que conviveram com ele e estudaram sobre o tema.

Roberto tenta há muitos anos manipular a forma com o público o vê, inclusive lutando judicialmente contra aqueles que tentam escrever biografias sobre ele (Leia mais aqui), e tem um parceiro forte, a emissora que o adotou como garoto propaganda ano após ano. Não é de hoje que a Rede Globo manipula a opinião pública, o próprio Boni já confessou a manipulação do debate eleitoral em 1989, favorecendo o candidato Fernando Collor à presidência. Infelizmente a manipulação da vez privou o público que não vai aos cinemas de assistir um grande filme, que merece todos os nossos aplausos e de conhecer um pouco mais sobre a história de um “gênio indomável” que foi o Tim Maia.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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