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Um “ex-brother” em vertigem

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Já faz um certo tempo que eu procrastinava para assistir ao documentário Democracia em vertigem, da cineasta Petra Costa. Obviamente, se um documentário recebe uma indicação ao Oscar, este tem um grau elevado de qualidade, e sendo assim, merece ser assistido. No entanto, este retrata uma “página infeliz de nossa história”, que nem sempre tenho estômago para acompanhar, e por isso demorei a assistir. Para se ter uma ideia, eu nunca havia visto o atual presidente colocar a faixa presidencial, recebendo-a de seu antecessor. Um show de horrores que evitei no momento em que ocorria, e que só vi pela primeira vez ao assistir ao documentário.

Mais cedo ou mais tarde eu iria assisti-lo, era uma questão de tempo, de encontrar o melhor momento para encarar a canalhice desenfreada que se instalou no Brasil com a chegada dos portugueses e que perdura até os dias atuais. Aquele que se manifesta contrário ao documentário, não foi capaz de entender ainda a conjuntura social na qual a humanidade se encontra. Sim, a humanidade, porque a luta de classes não assola somente esse país, e nem é um fenômeno recente.

Se depois de todos os áudios vazados, das matérias do The Intercept, dos enredos carnavalescos, como o da Paraíso do Tuiutí, e do documentário de Petra, um cidadão brasileiro ainda não entendeu o que ocorre, este é um desprivilegiado de intelecto. Podemos transferir conhecimento, mas “inteligência”, a ciência ainda não arrumou um jeito de passar a diante. De toda forma, esse não é o caso do jornalista Pedro Bial, a quem considero extremamente inteligente. E foram justamente suas críticas duras ao documentário que me fizeram assisti-lo na noite de ontem.

Indubitavelmente, gosto é algo que não se discute, cada um tem uma percepção diferente de uma obra. Se ele entende que a narração de Petra é “miada e insuportável”, onde ele pensa ouvi-la “choramingando o tempo inteiro”, essa é a sua percepção, e apesar de grosseira (para não dizer machista), é um direito que ele assim a perceba. Eu não tive essa sensação, mas respeito. O que não respeito é a posição politiqueira de atacar o documentário desmerecendo-o ao chamá-lo de “ficção alucinante”. Não Bial, o documentário não é um maniqueísmo, uma mentira, é o retrato de uma realidade, incluindo as críticas à imprensa, da qual um dia você fez parte, antes de se dedicar a ser o poeta da mediocridade em frente a um programa de entretenimento que pouco acrescenta a qualquer cidadão brasileiro.

Talvez o “ex-brother” não tenha assistido ao documentário de fato, juntou-se às muitas vozes que fazem a crítica pela crítica, com o único intuito de desmerecer de forma rancorosa a obra. Eu entendo. Às vezes a verdade é inconveniente, então torna-se mais fácil tentar manipular a informação e fazer com que a população que ainda não o assistiu, e nem vai, acredite se tratar apenas de um manifesto político. Caso realmente tenha assistido na íntegra, viu Petra fazer algumas críticas justificáveis aos governos do PT, e à figura do Lula. Entre elas, os escândalos de corrupção como o Mensalão, a coalizão com políticos que sempre foram criticados por eles, o caminho mais fácil de se adequar a um sistema corrupto, em vez de combatê-lo e os erros econômicos de Dilma Rousseff.

Falando dos políticos em si, vimos a ex-presidenta deixando claro que nunca quis ocupar o governo e que essa foi uma decisão do Lula, mostrando que não estava preparada para o que veio a seguir. Vimos o ex-presidente comentar alguns erros dos seus anos de governo, como a não regulamentação da mídia, que mantém algumas famílias com total poder sobre o que é veiculado, e isso inclui o empregador de Pedro Bial. Ainda que não fosse o objetivo do documentário, a autocrítica estava lá, diferente do que afirma o “ex-brother”. Aliás, “autocrítica” é a palavra mais usada pelos pseudointelectuais de direita, que nunca, jamais, em hipótese alguma, olham seus próprios “rabos”, assumem os seus equívocos, incluindo os que levaram o país a flertar com o fascismo, mas estão sempre exigindo pedidos de desculpas formais da esquerda brasileira, seja pelos equívocos do PT, ou até mesmo sobre o facínora do Stalin na extinta União Soviética, como fez os entrevistadores do programa Roda Viva à Manuela D´Ávila.

O mesmo programa que, sem nenhum pudor, selecionou os entrevistadores mais amigáveis para posteriormente dar palco ao ex-juiz de primeira instância Sérgio Moro, que manipulou a nossa democracia, vazando áudios de forma ilegal e criminosa da ex-presidenta da república, e hoje ocupa o cargo de ministro no governo fascista que ele ajudou a eleger, almejando uma boquinha no STF, ou quem sabe, até mesmo a sucessão presidencial. Vale ressaltar, que o “ex-brother” em vertigem também deu palco em seu programa para que o herói brega da extrema direita pudesse usar, mais um pouquinho, a mídia em seu favor.

Como escrevi anteriormente, quem ainda não entendeu o que ocorre é um desprivilegiado de intelecto, e aqueles que sabem muito bem o que acontece e fingem não sabê-lo, são apenas canalhas. Pedro Bial, definitivamente, não se enquadra na categoria dos desprivilegiados de intelecto.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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Um comentário

  1. Esse é o Pedro Bial que disse ao vivo no fantástico que Balé é coisa de veado! Tá aqui a prova:
    https://www.youtube.com/watch?v=4U7fdjmh9wk

    Este sujeito posa de pseudo-intelectual, mas é uma das pessoas mais racistas e preconceituosas da mídia nacional.

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