Kindle paperwhite: Prático como você

Mormaço – Parte 2

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Antes de ler este conto, leia a Parte 1

Claudia devorava cada página de “Mormaço”, lia e relia o mesmo livro a procura de respostas pelo sentimento avassalador que consumia seu peito. Não conseguia parar de ouvir a música que tocava quando fora ao seu encontro… “…I wish I was special, You’re so very special…”… Como ela queria ser especial para ele da mesma forma em que ele havia se tornado especial, por palavras, que talvez nem fossem escritas em sua razão.

Naquela manhã de domingo, bem diferente da última vez que o viu, estava sol, com um céu azul que há tempos não percebia. Claudia precisava mais do que absorver suas palavras, precisava respirar seu aroma. Precisava, do cheiro de Júlio entranhado em sua pele, como as palavras pareciam tatuadas em sua alma.

Será que ele havia lido o bilhete? Será que fazia ideia de quem era a Helena? Ele nunca a procurou, sequer tentou qualquer contato. O que fazer? Voltar ao mesmo ponto em que se viram pela última vez?

Claudia tomou um banho demorado, olhava suas formas no espelho e repetia mentalmente as palavras do poeta para Helena. Ela queria ser a musa inspiradora de Júlio, precisa ser, precisava se tornar ainda que não fosse. Colocou um vestido de cores claras, que valorizava seu decote. Na altura das coxas, realçava sua pele morena, marcada pelo sol. Ela sabia, iria de encontro a ele a qualquer momento, não poderia mais manter-se distante, apenas pedindo ao destino que os colocasse frente a frente.

Estava em frente à livraria novamente, que por ser um domingo se encontrava fechada, como da última vez em que esteve por lá. A frente havia um pequeno restaurante. Claudia precisava beber alguma coisa, um estímulo para tomar coragem e falar com Júlio. Sentou-se a mesa e bebia um copo de vodca com schweppes citrus, enquanto observava a porta da livraria, sonhando com o escritor que tanto se fez especial pra ela.

Após terminar o primeiro copo, ainda não se sentia preparada para tocar a campainha e falar com ele. Percebeu, no entanto, que a porta se abria. Era Júlio, ele estava de chinelos, com uma bermuda abaixo dos joelhos, e uma camiseta branca. Usava óculos, algo que ela ainda não havia reparado. Ele atravessou a rua, e entrou numa papelaria a frente, demorou alguns minutos e saiu com uma sacola, contendo alguns papéis e outros apetrechos.

Enquanto aguardava assistindo em silêncio os passos de Júlio, ela pediu mais um copo da bebida que tomava para enfim ir ao seu encontro. Percebeu que ele entrou na livraria e como parecia ser um hábito, não passou a chave. Claudia passou cerca de meia hora pensando se realmente deveria se enfiar de cabeça naquela loucura.

Passou a tarde inteira olhando para aquela porta e bebendo sua vodca. Pagou a conta e tomou coragem para ir ao encontro de Júlio. Abriu a maçaneta devagar, passou por entre as estantes como se estivesse em um Déjà vu. A imagem se repetia, o lugar se repetia, assim como seus personagens.

Avistou mais uma vez a fresta de luz pela porta entreaberta. Ele estava no mesmo lugar. Desta vez digitava apressadamente, como em transe em um laptop, que lhe parecia antigo. Estava descalço, e com a mesma bermuda que usava quando fora à papelaria. Estava sem camisa. Ela podia observar as tatuagens em seu corpo. Havia uma afinidade entre ambos: os corpos desenhados.

Ao lado do laptop, pôde perceber que ele bebia alguma coisa, não era capaz de identificar com precisão o que era, tinha cor vermelha. Próximo ao copo estava o bilhete que escrevera para ele. Júlio havia lido, será que sabia quem era a Helena do bilhete? Os óculos estavam quase por cima do papel que usou para escrever a mensagem a ele. A imagem de Júlio sem camisa, misturada ao álcool que havia ingerido, lhe enrubescia a face, enquanto provocava lentamente sua libido.

Claudia podia sentir o cheiro de Júlio, um aroma entorpecedor, que tirava qualquer senso de razão que ainda restasse naquele instante. Respirava de forma pausada, sentia os lábios ressecados e a pele arrepiada. Sem sutiã, podia perceber os mamilos entumecidos quase furando o vestido. Nenhum homem havia lhe excitado de tamanha forma sem sequer toca-la.

Enquanto ele escrevia, ela tentava arrumar os pensamentos, precisava sair dali, respirar. Não seria capaz de qualquer conversa sem se entregar a ele. Tentou se virar sem realizar um movimento brusco, para que Júlio não percebesse sua presença. Estava em brasas. Sentiu em sua virilha escorrer o desejo que o corpo emanava, estava encharcada como da última vez, mas agora, não havia chuva.

O cheiro, o calor, a visão de Júlio, ela precisava senti-lo, precisava do toque do escritor em sua pele. Tinha pouca noção da loucura que estava fazendo, não detinha mais qualquer controle sobre seu corpo. Tocou os próprios seios, sonhando com as mãos grandes que ele usava para digitar. Reparava nas marcas que o sol havia deixado em sua pele. Era uma mulher extremamente desejável, imaginava que ele desejaria tocar em seus seios nus, como havia descrito o poeta sobre Helena. Abaixou uma alça do vestido para que pudesse tocar-se, imaginando que era isso que ele fazia neste instante.

Olhava quase que em transe para Júlio, que escrevia sem sequer perceber sua presença. Direcionou a outra mão para o meio de suas coxas. Tremia, lasciva, desejando que Júlio a tomasse pra si, a desejasse e penetrasse como nenhum homem antes havia feito. Tocava seu sexo de forma lenta, cadenciada, pausadamente, como se ele pudesse percorrer seu corpo com os lábios. Não pensava em nada, não calculava os riscos de estar ali, se tocando enquanto observava seu escritor. Sentia a respiração se tornar mais intensa, fechou os olhos e num rompante, atingiu em silêncio o ápice do prazer que ele proporcionara a ela sem sequer imaginar. Trêmula, muda, suando e extasiada. Ela se recompôs e deu conta da loucura que havia cometido. Como pode ele não ter sequer percebido a presença daquela mulher e a ter tomado pra si como nunca nenhum outro teria sido capaz de tomar?

Cláudia não teve coragem de pronunciar uma única palavra. Não conseguiu falar com Júlio o que tanto desejou pronunciar. Deixou a livraria, não sem antes pendurar em sua porta um novo bilhete.

Tenho você. E não cabe em definição alguma. Você é meu mistério, aquele que me enlouquece num olhar, que me trata de forma única. Adoro essa indefinição que tenho com você.

Beijos, Helena.

Leia também:

Mormaço – Parte Final

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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