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Lula precisa ser a única esperança de esquerda no Brasil?

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Eu tenho acompanhado uma incessante luta dos líderes de esquerda, dos mais diversos partidos, em apoiar o ex-presidente Lula e sua candidatura à presidência. Essa luta não se limita a líderes políticos, mas também aos militantes. Compreendo à necessidade de a esquerda retornar ao poder federal, muitos direitos foram perdidos após o golpe de 2016, entretanto, todos os esforços precisam ser empenhados para defender a candidatura do ex-presidente?

Lula sabe que dificilmente poderá concorrer ao pleito, muito provavelmente sequer estará em liberdade para isso. Poderia focar em uma candidatura mais sólida para presidente, um nome vindo do próprio PT, mas prefere lutar para entrar para a história como um mártir da esquerda, um projeto muito mais pessoal do que nacional. Talvez eu esteja enganado, a estratégia pode vir a se mostrar a correta, blindando o real candidato, que será apresentado às vésperas da data final para registro de candidatura, mas não é o que parece.

O ex-presidente tem mantido a política de boa vizinhança com Ciro Gomes (PDT), Manuela d´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), apoiando inclusive o direito de cada um em pleitear o cargo de presidente(a). Se tem uma coisa que devemos louvar no Lula é a sua capacidade de mobilização e principalmente de costurar politicamente seus apoios. De bobo, o Lula não tem nada, ele sabe que sendo ou não candidato, a chance de o candidato do PT chegar a um segundo turno é enorme e precisará do apoio da esquerda como um todo, e por isso mantém a política de boa vizinhança, diferente do que acontece com alguns membros do partido de grande parte da militância, que critica outras candidaturas, isso quando não ataca diretamente outros partidos e candidatos. Não basta todos estarem apoiando o Lula, seja em sua candidatura ou na perseguição que sofre da mídia e do judiciário, eles precisam abrir mão de sua candidatura para que o PT possa voltar ao poder.

A esquerda brasileira precisa de novos nomes, aprender com os próprios erros, não só no panorama político como no dia a dia em sociedade. Principalmente o PT, maior partido de esquerda da América Latina, precisa se reinventar, apostar em novos nomes, afastar de vez os corruptos que se apoderaram do partido, reavaliar seus muitos equívocos no poder e seguir em frente como o grande partido de esquerda que é, sem se apegar ao “lulismo”, porque quem vive a sombra de uma pessoa e não de um ideal tende a morrer junto com ela. Como disse Friedrich Nietzsche, “há mais ídolos do que realidade no mundo”. Precisamos de menos idolatria e mais realidade para reerguer a esquerda nesse país. Lembrem-se, personificar a Revolução Soviética em torno de uma pessoa e não um ideal manchou o legado de um movimento tão importante em virtude das loucuras de um facínora.

Lula foi um dos maiores presidentes de nossa história, talvez até mesmo o maior. Pegou o Brasil passando por uma grave crise econômica neoliberal, constituindo políticas sociais “nunca antes vistas na história desse país”, livrando o Brasil do mapa da fome e do projeto colonizador da Alca, dando fim à dependência do FMI e fortalecendo as relações da América Latina com o Mercosul. Lula é um dos maiores líderes do país e ainda tem muito a acrescentar no cenário político, só não pode ser a única esperança contra aqueles que usurpam direitos, vendem nossas empresas a preço de banana e subtraem a pátria sem maiores pudores, passando ilesos pela justiça seletiva que assola o Brasil. Ainda que o Petista venha a ter o meu voto em um possível confronto com as aves de rapina citadas.

Grande parte dos militantes de esquerda no país pensa exatamente como a direita, acreditando que tudo se resume ao PT e ao Lula. A política de esquerda, seja no Brasil ou mundo, vai muito além de um único partido e de seu líder. E claro, de seu projeto de poder, que inclui acordos com empreiteiras corruptas, empréstimo do BNDES para construir um império que manipula o mercado de ações, fecha acordos inescrupulosos na calada da noite dentro do Palácio da Alvorada e para piorar suja a imagem do país exportando carne podre. Sem falar no famigerado conluio com o PMDB, acusado de ser golpista, mas que ainda assim costura acordos nas eleições municipais como se nada tivesse acontecido.

Precisamos de um Brasil que pense no futuro, e não de um Brasil que se apega ao passado. Um Brasil que rompa de vez com as oligarquias que o dominam, com um sistema fracassado que só causa segregação, fome e desigualdade social. Um país em que lutamos pelos direitos de todos, pela equidade de seus cidadãos e pela isonomia da justiça. Um país que pense em regular mídia como regula qualquer outro setor, em benefício da população e do país e não como forma de censura quando lhe convém. Precisamos de um país onde a Central Única dos Trabalhadores vai as ruas para defender os direitos trabalhistas da população, e não um sindicado que só aparece para defender o Lula.

Eu sou e serei sempre um dos primeiros a lutar para que a esquerda volte a governar o Brasil, porque acredito nas políticas sociais e nos resultados que ela pode e traz para a população, seja no âmbito educacional, nas políticas públicas e na luta contra a fome. Contudo, se para isso for preciso apoiar ações que vão de encontro a tudo aquilo que acredito, prefiro me abster da luta para vencer uma eleição. Se não sou a favor de que venhamos a nos corromper após chegar ao poder, quiçá nos corrompermos para chegar a ele. Até porque, já ficou claro que a luta tem que ser muito maior do que só ganhar as eleições, já que quando convém, destituem o presidente eleito sem grandes dificuldades. Basta não seguir a cartilha que o sistema impõe, e o sistema, como diria o Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite, é foda.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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3 comentários

  1. Robson Pereira dos Santos

    Concorda plenamente quando você diz que Lula está investindo mais no plano pessoal, e acredito ainda que os partidos deveriam se unir ao invés de cada partido apresentar o seu candidato, os partidos de esquerda do nosso país busca cada um os seus próprios interesses e não do coletivo.

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      Robson, já pensei em um candidato único de esquerda, o problema é a vaidade. O candidato único precisa ser o Lula? Acho que o PT já deveria ter apresentado outro candidato. Não acredito que ele venha a ser candidato de fato. Abraços.

  2. Eliza Regina Ambrosio

    Concordo que o Lula seja o cara, ele foi e ainda será o maior e melhor de todos os presidentes porque governou para o povo e consequentemente para o Brasil. Mas também não vejo o Lula como a solução, ele é inteligente o suficiente para assessorar um bom presidente que venha do bloco da esquerda. Com ele nesse papel teremos novamente as políticas sociais necessárias para a retomada do desenvolvimento e o bem estar do povo.

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