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Pelé

Em toda a carreira profissional, além da Seleção Brasileira e da Seleção Paulista, Pelé só defendeu o Santos no Brasil, e o New York Cosmos nos Estados Unidos. Vestiu a camisa do Vasco da Gama e do Clube de Regatas do Flamengo em partidas amistosas em ocasiões distintas, mas um Rei não existe sem que para isso tenha vestido um manto, e seis meses após encerrar a carreira, vestiu o manto sagrado das Laranjeiras.

Em abril de 1978, o Fluminense excursionava pelo continente Africano atuando em amistosos, contra a Seleção Nigeriana e duas equipes locais, o Racca Rovers, de Kano, campeão nacional e o Shooting Stars, da Cidade de Ibadan.

O Fluminense venceu a Seleção Nigeriana por 3 a 1, com gols de Marinho Chagas (2) e Gilson Gênio, no Estádio Municipal de Lagos, na cidade de mesmo nome e capital do País, no dia 22. Após o primeiro amistoso, o Tricolor voltou a campo no dia 26, para enfrentar o Racca Rovers. A partida ocorreu no Estádio Municipal de Kaduna, situado nas montanhas do Norte.

Coincidentemente, enquanto o Fluminense disputava os amistosos na Nigéria, o “Rei” Pelé se encontrava no mesmo País trabalhando em campanhas promocionais para a inauguração de novas linhas de transmissão de energia construídas pela Intelbrás em território africano.

Cientes da presença do Rei, as autoridades Nigerianas solicitaram que o maior jogador de futebol de todos os tempos desse o pontapé inicial na partida, para promover o evento. Ao ser divulgada a notícia de que Pelé estaria em campo, uma rádio local se confundiu e anunciou que Pelé jogaria o amistoso vestindo a camisa do Fluminense.

O equívoco levou trinta mil pessoas ao estádio para ver novamente o Rei do Futebol em ação. Todos os ingressos colocados à venda se esgotaram e o clima era de comoção para ver Pelé. Preocupado com a repercussão do equívoco da mídia local, Ângelo Chaves, chefe da delegação do Fluminense, procurou às autoridades a fim de desfazer o mal entendido a tempo, mas já era tarde demais.

A polícia começou a se preocupar com a repercussão de uma possível notícia informando de que Pelé não atuaria na partida. Em uma entrevista a rádio oficial, o chefe de polícia informou que caso Pelé não atuasse na partida, ele retiraria todos os policiais do estádio porque não teria a menor condição de controlar os torcedores enfurecidos com a ausência do Rei.

Com o impasse criado, as autoridades procuram Pelé e apelaram para que ele entrasse em campo e mesmo sem atuar profissionalmente por seis meses, já que havia se aposentado um ano antes atuando pelo Cosmos, dos Estados Unidos, o Rei aceitou o pedido de atuar na partida. A situação inusitada fez Pelé adentrar ao campo com um par de chuteiras dois números abaixo do seu (calçava 39 e usou chuteiras 37), por não haver com a delegação Tricolor as chuteiras ideais para o Rei.

Antes mesmo de a bola rolar, Pelé adentrou o gramado desfilando trajes típicos do povo africano levando a torcida ao delírio e atuou todo o primeiro tempo com a camisa do Fluminense, sem marcar gols. A primeira etapa terminou com o placar de 1 a 0, gol do lateral esquerdo Marinho Chagas.

No intervalo da partida, mais um lance inusitado, após o anúncio da saída do Rei, um enxame de abelhas invadiu o estádio, causando pânico entre os torcedores, contudo sem grandes desastres, apenas um policial se feriu ao cair de seu cavalo.

Ao final da partida, o Fluminense derrotou o Racca Rovers por 2 a 1, com gol de Arturzinho (Algumas fontes citam que o segundo gol teria sido de Gilson Gênio), Ichias marcou para os africanos. O grande destaque da partida foi Gilson Gênio que chegou a ser carregado pelos torcedores depois de grande atuação.

Após este compromisso, o Fluminense voltou a atuar no Estádio Municipal de Lagos, onde havia vencido a Seleção Nigeriana, para encarar o Shooting Stars, e novamente o nome de Pelé foi ventilado como possível presença, mas o Rei já estava a caminho de Londres. A partida terminou sem a presença do Rei e com o placar em 1 a 1 com mais um gol de Marinho Chagas.

Em uma coluna no Jornal O Globo, datada de 10/03/2002, ano do centenário do Fluminense, onde recebeu uma camisa personalizada do então presidente David Fischel, Pelé escreveu sobre a ocasião:

– Aconteceu na Nigéria, em 1978, meses depois da minha despedida oficial do futebol. Viajei para participar da inauguração de novas linhas de transmissão de energia construídas pela Intelbrás em território africano. Como parte das festividades, o Fluminense enfrentaria o time da Cidade em Kaduna. Minha missão era dar o pontapé inicial. Horas antes do início da partida, os portões do estádio foram fechados porque milhares de pessoas superlotavam as arquibancadas. Um chefe de polícia preocupado me contou o porque de tanta gente: Uma rádio local havia anunciado erradamente que Pelé jogaria pelo tricolor carioca. “Mas eu só vou dar o pontapé inicial”, insisti. Disse que não estava preparado, não tinha sequer uniforme. Os organizadores explicaram que a Cidade toda estava dentro do Estádio para ver Pelé jogar. Se eu recusasse, poderia haver uma tragédia. Pelo bem geral, acabei cedendo e jogando todo o primeiro tempo. Usei uma chuteira emprestada, número 37, embora calçasse 39. Apesar do desconforto, valeu pela festa que a torcida fazia cada vez que Pelé tocava na bola…

OBS: A equipe profissional do Racca Rovers foi extinta em 1994.

Racca Rovers 1 x 2 Fluminense.

Data: 26/04/1978.

Local: Estádio Municipal de Kaduna, Nigéria.

Público: 30.000 pagantes.

Fluminense: Renato; Edevaldo, Miranda, Dário Lourenço e Marinho Chagas; Rubens Galaxe, Arturzinho e Pelé; Gildásio, Geraldão e Gilson Gênio. Entraram Edival, Luis Carlos e Carlinhos. Técnico: Paulo Emílio.

Gols do Fluminense: Marinho Chagas (1T) e Arturzinho (2T).

Gol do Racca Rovers: Ichias (2T)

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