Eles resolveram caminhar pelo parque do Ibirapuera naquele domingo de céu azul. Ainda que o tempo estivesse frio dentro de casa, o sol forte aquecia os corpos daqueles que se colocavam a disposição para passear observando a natureza. Os finais de semana são bastante movimentados naquela parte da cidade, crianças em seus patins ou bicicletas, jovens em seus skates, adultos e seus cachorros. Um clima de paz e tranquilidade.
Fazia um tempo que não se davam ao luxo de passear juntos, a vida agitada da grande metrópole os afastou, só o sentimento que um nutria pelo outro, não era mais suficiente, para mantê-los juntos como outrora. Ela sempre calada, acreditava que sentimentos eram feitos para serem sentidos, enquanto ele precisava falar, precisava ouvir, para sentir em seu peito a chama do amor que um sentia pelo outro. As diferenças também contribuíam para que se mantivessem afastados. Ele tentou aquele encontro por algumas vezes, mas de última hora, ela precisava trabalhar, ou resolver qualquer problema e eles não se viam. Naquele dia tudo seria diferente, ela também precisava vê-lo. Mesmo com seu jeito estranho de amar, precisava de sua presença.
Encontraram-se na entrada do parque, em frente ao Monumento às Bandeiras. Ao se verem ele a esperava com o mesmo sorriso largo de antes e o anseio por um abraço. Ela sempre mais comedida, com um leve sorriso no canto da boca, como se seu rosto pudesse ao mesmo tempo em parte lhe sorrir e em parte dedicar-se ao silêncio. Abraçaram-se e derem um beijo leve, de carinho, e seguiram caminhando pelo Ibirapuera. Observavam as pessoas, o lago, os gansos. Ele sempre com um sorriso. Só a sua presença já trazia motivos para os mais longos sorrisos, e nem sempre podia ter o que mais lhe fazia bem.
Sempre conversaram bastante, sobre os mais diversos assuntos, música, poesia, filmes e fotografias, apesar das diferenças, tinham muito em comum. Aproximaram-se justamente pelos gostos parecidos, mas aquela manhã era de silêncio. Um silêncio que o incomodava, e que para ela parecia indiferente, ainda que não o fosse. Sentaram no gramado e juntos observaram o lago. Sob a sombra pensaram em dizer algumas palavras, contudo, talvez não houvesse mesmo mais nada a ser dito. Após os muitos minutos de agonia pela estranha sensação da intimidade entre estranhos, ele puxou do bolso seu iPod, escolheu um álbum do Cranberries, uma coletânea com os melhores hits da banda. Pegou um dos fones e colocou no ouvido e o outro ele dividiu com ela, para que juntos pudessem ouvir a mesma música. Ela lhe sorriu com o tradicional sorriso de canto, e deitaram lado a lado no gramado.
Enquanto ouviam “Dreams”, ela olhou para o lado, fez um carinho em seu rosto e pronunciou as primeiras palavras daquela manhã: – Te amo. Ele lhe sorriu de volta e sem dizer uma única palavra lhe respondeu com o olhar que só ela podia ter, o brilho dos seus olhos só ela teria, ali e sempre. Inconformada com o silêncio de quem gosta tanto de falar, lhe perguntou:
– Promete que vai me amar por toda a minha vida?
E ele respondeu quebrando o silêncio:
– Não posso prometer que vou te amar por toda a sua vida, mas garanto que vou te amar a cada segundo pelo resto da minha.