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De volta ao País das Maravilhas – Parte Final

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Antes de ler este conto, leia a Parte 1 e a Parte 2

Daniel havia tomado uma decisão importante, depois de tanto tempo decidiu que o melhor que poderia fazer seria dar fim a vida dupla que levava. Sabia que tinha filhos e uma mulher que o amava, apesar da vida monótona. Tomar aquela decisão não foi fácil, pensou meses sobre isso e sabia que perderia Alice, caso não se decidisse de uma vez por uma vida ao seu lado.

Sua esposa não era cega, já havia percebido que ele não tinha mais interesse por ela, mas com isso, ela já tinha se acostumado. O que era diferente agora é que os olhos de Daniel haviam voltado a brilhar. Ele estava mais vivo, alegre, feliz e ela sabia que isso não tinha relação com a vida que levavam. Ensaiava uma conversa há tempos, mas tinha medo de ver ruir sua família. Não precisou. Daniel por conta própria a chamou para conversar e contou o que ela previa. Ele estava indo embora.

Eles não brigaram, não discutiram, apenas choraram. Faz parte da vida, tudo que tem um início, tem um fim. No dia, Daniel avisou que passaria uns tempos viajando a trabalho, e que quando as ideias estivessem mais claras, voltaria para conversar sobre o divórcio. Encomendou uma joia e um buque de flores para levar à Alice. Arrumou as malas e colocou no carro de um amigo que o levaria ao aeroporto. Ninguém sabia, precisava de uma vida nova, de respirar novos ares, sequer avisou aos seus gestores na empresa que iria viajar por um tempo.

Havia combinado uma visita a Alice, mas não falou sobre sua decisão, precisava fazer uma surpresa para o grande amor de sua vida. Contava os segundos para estar em seus braços novamente. Colocou no bolso, do lado esquerdo do casaco, a joia que havia comprado, tomando cuidado também para não amassar as rosas vermelhas que levava para ela.

Chegando ao aeroporto, pegou a única bolsa que tinha consigo, despediu-se do amigo e foi fazer o check-in.  Despachou a bolsa que carregava, conferiu o horário e se encaminhou em direção ao embarque. Estava nervoso, suava como um menino. Queria logo encontrar com Alice e contar-lhe a novidade.

Tudo parecia tranquilo naquela tarde. O aeroporto estava vazio, o fluxo de pessoas, apesar de não ser pequeno, era insuficiente para provocar atrasos nos embarques. Após passar pelos raios-X, seguiu para a cafeteria. Ainda tinha uns vinte minutos. Daria tempo para ler uma revista e tomar um café. Enquanto tomava seu expresso, percebeu que alguma coisa estava errada. Faltavam poucos minutos para o avião decolar, conforme previsto, e nenhum aviso de embarque.

Daniel foi ao painel verificar se havia alguma informação sobre atrasos, algo bem comum em nossos aeroportos. Tudo parecia seguir como previsto, mas havia alguma coisa errada, funcionários andavam de forma rápida, como se participassem de uma corrida de marcha atlética. Algo não estava bem.

Perguntou ao rapaz da companhia aérea se estava acontecendo alguma coisa. Foi informado de que seu voo atrasaria, mas ainda não havia recebido autorização para informar o problema real. Daniel tentou ligar para Alice com o intuito de avisá-la sobre o atraso, mas seu celular estava sem sinal. Não procurou um telefone público porque imaginou que em breve tudo estaria resolvido e se sentou na sala de embarque, aguardando por mais notícias.

Os rumores de um acidente na plataforma começaram a circular pelos corredores. Em pouco tempo veio o aviso. Um avião ao tentar pouso, teve problemas e se chocou com outra aeronave. Nada grave, sem feridos, mas o aeroporto precisaria ficar fechado por mais de duas horas.

Após finalmente embarcar, Daniel viajou apreensivo, precisava chegar logo e avisar Alice tudo que estava acontecendo. Assim que chegou ao solo, tentou novo contato telefônico, mas suas tentativas foram em vão. Em casa ninguém atendia e o celular estava dando fora de área. Foi direto à residência de Alice. Pensou que até chegar lá, ela já poderia estar de volta.

Chegando ao prédio de Alice, Daniel tocou o interfone e não foi atendido. Entrou em contato com o zelador e questionou se ela havia estado em casa durante a noite. Joel informou que Alice havia colocado duas malas no carro e saído logo após as 19h. Ele ficou intrigado, onde estaria Alice? Por que o celular só caía na caixa postal?

Ligou para Adriana, colega de trabalho de Alice e ela também não tinha notícias de seu paradeiro, mas informou que Alice havia avisado na empresa que tiraria férias e precisava de um tempo para pensar melhor na vida. Daniel tentou insistentemente contato com todas as pessoas que conheciam, mas ninguém sabia de Alice. Nenhum sinal na Internet, uma postagem nova, um check-in no Facebook, nada. Percebeu ainda que Alice o havia excluído e bloqueado em todas as redes sociais. Enviou diversos e-mails e não obteve uma única resposta. Alice simplesmente sumiu. Ela havia fugido por algum motivo que ele desconhecia. Daniel tentou contato por dias, semanas, meses, mas não teve sucesso.

Entendeu que Alice não queria mais ser dele e decidiu que não mais tentaria ser dela novamente, assim como havia sonhado sua vida inteira.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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