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Em que somos melhores que Fabíola?

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Se você não esteve desconectado do mundo nos últimos dias, já está sabendo quem é Fabíola, sua vida pessoal, sua intimidade e já foi brindado com muitas montagens e anedotas sobre ela. Caso ainda não saiba do que estou falando, darei uma rápida introdução ao caso:

Fabíola é uma mulher comum, exatamente como qualquer outra, não é famosa, atriz, modelo ou dançarina. Foi vítima de uma vingança conjugal em um vídeo que viralizou nas redes sociais. Na gravação em questão, descobrimos que Fabíola, casada e mãe de duas filhas, foi pega em flagrante por seu cônjuge quando adentrava em um motel na companhia do melhor amigo do marido. O cônjuge enfurecido danificou o veículo do amante, tirou a mulher do carro pelos cabelos e ameaçou a ela e ao amante de morte, tudo registrado por um terceiro, também amigo do marido traído, que parecia se divertir na função de cinegrafista.

Após o vídeo correr a Internet, surgiram as mais diversas piadas e montagens com fotos pessoais de Fabíola e sua agora destruída família. Claro, não poderia passar em branco o que aconteceu. Criamos três personagens na história: o corno, o gordinho gostoso e a piranha. Ela merecia não é mesmo? Afinal, traiu o marido, assim como merecem serem molestadas no metrô as meninas com roupas “indecentes”.

Não estou defendendo a traição, pois trair a confiança de alguém não é correto. Entendo também a dor do marido, sua frustação, seu sentimento de impotência, mas isso não dá a ele o direito ao vandalismo do patrimônio alheio e menos ainda de agredir sua companheira. Vale ressaltar que o vídeo gravado pelo amigo, paladino da justiça, serviu para humilhar Fabíola, colocá-la como uma párea, uma pessoa que não merece nosso respeito como ser humano, tornou-se imoral aos olhos da sociedade. Não estamos falando de algo que ocorreu na Idade Média, estamos quase em 2016.

Se Fabíola saiu com a imagem exposta, humilhada e coisificada por um vídeo em que não autorizou a divulgação, sim, porque se Carlos Eduardo, o marido traído, também está sendo ridicularizado, foi uma escolha sua de autorizar a gravação e depois a divulgação, o mesmo não ocorreu com Leonardo, o “gordinho gostoso”. Esse saiu com fama de garanhão e não teve a imagem de sua família exposta ainda que também seja casado. Ele errou? Sim, até mais do que Fabíola, já que traiu não somente sua esposa (ao que parece já foi perdoado) como também a confiança do melhor amigo, mas esse não está sendo recriminado, ao contrário, está prestes a ser beatificado pela sociedade machista, “deu mole? Come mesmo”, não é assim que funciona?

Nos comportamos como o cinegrafista, julgamos e humilhamos Fabíola e fico me perguntando: em que momento somos melhores do que ela? Em que momento nos tornamos juízes da moral e dos bons costumes e deixamos de errar, passando a ter o direito de julgar e humilhar quem erra? Não se trata somente de assistir ao vídeo e até compartilhá-lo, faz parte da natureza humana a diversão com a desgraça alheia, mas contribuir com a humilhação de Fabíola, prolongar o sofrimento dos envolvidos no episódio, nos torna cúmplices do crime virtual. Ninguém se preocupou com as filhas de Fabíola, expostas também nessa situação, nem com os funcionários do motel que assistiam a tudo passivamente, menos ainda com o Léo que assistia a amante sendo agredida, como se não fosse também dele a responsabilidade pelo que estava acontecendo.

Fabíola errou, difícil é encontrar quem não errou nesse episódio, mas isso deveria ser resolvido exclusivamente entre eles, sem a intervenção de terceiros. Ética é fazer o que é certo, mesmo quando não há ninguém olhando e nos julgando por isso e isso vale para o que compartilhamos pelo Whatsapp.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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