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O início do futebol brasileiro e a criação do Fluminense Football Club

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Muito se discute sobre o início do futebol brasileiro, desde a primeira bola a chegar, até as primeiras partidas. A verdade é que não há como mensurar com precisão o responsável direto por trazer o futebol para o nosso país, mas é possível identificar aqueles que foram os principais por disseminar essa modalidade de esporte, hoje a principal no gosto do povo brasileiro.

Existem registros da prática do futebol por marinheiros no litoral brasileiro, sendo o primeiro em 1874, quando ocorreu a primeira disputa, entre marinheiros ingleses, na praia do Flamengo, em frente a onde hoje se encontra o Hotel Glória. Curiosamente, no dia 24 de novembro do mesmo ano, nascia Charles Willian Miller, que viria a ser reconhecido como o responsável por registrar a primeira partida de futebol oficial no Brasil.

Em 1879, a tripulação do navio britânico Crimeia participou de uma partida de futebol em frente ao palácio da Princesa Isabel, hoje conhecido como o Palácio da Guanabara, sede do governo estadual, ao lado do Fluminense Football Club, no bairro das Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro, com o consentimento da princesa.

Em 20 de janeiro de 1880 registrou-se o nascimento de Oscar Alfredo Cox, no Largo dos Leões, no Município do Rio de Janeiro. Filho de George Emmanuel Cox e Minervina Dutra Cox, o menino seria o responsável por popularizar o esporte bretão no Estado.

Quatro anos mais tarde, Charles Miller foi enviado por seu pai, John Miller, ao lado do irmão, John Henry, para estudar na Banister Court School, na cidade de Southampton, na Inglaterra, onde conheceu o futebol.

Em 1894, o escocês Thomas Donohoe, um tintureiro da Busby Print Works, empresa têxtil do vilarejo de Bubsy, ao sul de Glasgow, capital da Escócia, decidiu se mudar para o Brasil, acreditando na promessa de que no País havia universidades onde se praticava o futebol e um complexo industrial muito maior do que o de onde vivia. Chegando ao Rio de Janeiro, descobriu que a realidade era bem diferente, e, ainda assim, Donohoe mandou buscar a mulher Elizabeth e seus dois filhos, John e Patrick, solicitando que a esposa trouxesse todo o material para jogar futebol. Esse fato ocorreu antes do retorno de Charles Miller ao Brasil, trazendo na bagagem duas bolas de futebol.

Assim que retornou a São Paulo, Miller iniciou o processo de “evangelização” do futebol aos seus amigos, antes de formalizar as primeiras partidas. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Thomas Donohoe já trabalhava em uma fábrica em Bangu, onde organizava com os demais operários algumas partidas de futebol nos jardins da fábrica, sem nunca se preocupar em registrar o feito. Teria passado em branco na história do futebol brasileiro, mesmo sendo um de seus precursores, se não tivesse fundado em 1903 o Bangu Atlético Clube.

A primeira partida oficial do Brasil de que se tem registro é datada de 14 de abril de 1895, realizada entre funcionários das empresas inglesas Gazz Team (Companhia de Gás de São Paulo) e São Paulo Railway (Companhia Ferroviária de São Paulo), na Várzea do Carmo, em São Paulo, onde o São Paulo Railway, equipe de Charles Miller, venceu por 4 a 2, sob os olhares de 18 espectadores.

Oscar Cox teve o mesmo destino de Charles Miller. O menino foi enviado por seu pai para estudar no Colégio de La Ville, em Lausanne, na Suíça, onde aprendeu a jogar futebol e se apaixonou por esse esporte. Aos 17 anos, em 1897, Cox voltou ao Brasil após completar os estudos e encomendou materiais destinados à prática do futebol no Rio de Janeiro, pois, assim como Miller, tinha o interesse de propagar e formalizar essa modalidade esportiva no Brasil.

Após diversas tentativas fracassadas, Oscar Cox conseguiu organizar a primeira equipe carioca de futebol, batizada de Rio Cricket, e a primeira de que se tem registro, realizada no Rio de Janeiro. No dia 1o de agosto de 1901, no campo do Rio Cricket and Athletic Association (clube fundado em 1872 por George Emmanuel Cox, pai de Oscar Cox), em Niterói, realizou-se uma partida envolvendo um combinado de jogadores ingleses chamados de Athletic Association Niterói.

A partida, que terminou em 1 a 1, com gol de Julio de Moraes para os cariocas, foi assistida por 15 pessoas: o pai e a mãe de Victor Etchegaray, Mário Rocha, Domingos Moitinho e 11 tenistas que se encontravam na sede do Rio Cricket. A equipe carioca era formada por: Clyto Portella, Victor Etchegaray, W. Schuback, M. Frias, Oscar Cox, Max Naegely, Costa Santos, E. Moraes, L. Nobrega, Julio de Moraes e F. Frias.

Mais dois confrontos foram realizados contra o Athletic Association Niterói, dessa vez no campo do Paysandu Cricket Club, com mais dois empates. Animado com as primeiras partidas, Oscar Cox trocou cartas com René Vanorden, do Sport Club Internacional, de São Paulo, e idealizou a primeira excursão do País para a prática do futebol.

O projeto de Cox foi acolhido não só por René, como também por Ibañez Salles, do Club Atlético Paulistano, R. Nobiling, do Sport Club Germania, Antônio Costa, do Sport Club Internacional, e Charles Miller, Fox Rule e Boyes, do São Paulo Athletic.

No dia 19 de outubro de 1901, no campo do São Paulo Athletic, ocorreu o primeiro encontro de futebol entre quadros do Rio de Janeiro e São Paulo. O combinado paulista se denominou São Paulo Scrath Team, e os cariocas fizeram algumas modificações na equipe que enfrentou o combinado inglês. Schuback no gol e Mário Frias e Nóbrega na defesa, o meio-campo foi armado com Cox, Wrighe e McCullock, enquanto no ataque ocorreu a entrada de Walter na posição de ponta-direita, passando Haroldo da Costa Santos para o lugar de Nóbrega, e a equipe passou a chamar-se Rio Scratch Team. A partida teve início às 4h55 da manhã e terminou com o empate de 2 a 2. Os gols do Rio Team foram marcados por Félix Frias e McCullock. No dia seguinte, um novo encontro entre as equipes e um novo empate, dessa vez sem gol.

No dia 3 de maio de 1902 ocorreu a primeira partida oficial de um campeonato disputado em solo brasileiro, com ingresso custando 2$000 (dois mil réis). Mackenzie e Germânia foram a campo pelo Campeonato Paulista, sob a chancela da Liga Paulista de Football (LPF), criada um ano antes por Charles Miller, Hans Nobling e Antônio Casemiro da Costa, o primeiro presidente da liga. A partida terminou com a vitória do Mackenzie por 2 a 1, cabendo ao atacante Mário Eppingaus a façanha de marcar o primeiro gol oficial da história do futebol brasileiro.

No retorno da excursão para São Paulo, em um trem ainda de madeira, Oscar Cox e seus companheiros cogitam a hipótese de se criar o primeiro clube do País voltado exclusivamente para a prática do futebol. Marcaram então para novembro uma reunião na sede do Laranjeiras Club visando à fundação do Rio Football Club.

A reunião marcada para o dia 30, às 20h30, foi um fracasso, pois poucas pessoas compareceram. A ideia, no entanto, agradou a João Ferreira, que apaixonado por futebol fundou no dia 12 de julho de 1902 o Rio Football Club, que viria a ser o primeiro adversário do Fluminense Football Club. No mesmo mês, nova excursão dos cariocas a São Paulo, onde foram disputadas duas partidas: uma contra o Club Atlético Paulistano e outra contra o Sport Club Internacional. Os paulistas saíram vitoriosos nos dois confrontos: 1 a 0 e 3 a 0. Todas as despesas do hotel foram pagas pelos paulistas, como ajuda de custo, e ainda adiantaram aos visitantes o valor de 500$000 (quinhentos mil réis ).

A delegação carioca retornou ao Rio de Janeiro no dia 15 de julho, com o firme propósito de fundar um clube de futebol no Estado. Oscar Cox e seus companheiros convocaram então nova reunião para o dia 21 de julho de 1902, no prédio da Rua Marquês de Abrantes, 51, residência de Horácio da Costa Santos.

A reunião foi presidida inicialmente por Manoel Rios e secretariada por Oscar Cox e Américo Couto. João Carlos de Mello e Virgílio Leite propuseram que Oscar Cox a presidisse, o que foi aceito por todos. Cox, então, assumiu a presidência e Manoel Rios assumiu a função de secretário. Ainda por proposta de João Carlos de Mello foram considerados fundadores, sem regalias, os 20 sócios presentes. Foram eles: Horácio da Costa Santos, Mário Rocha, Walter Schuback, Félix Frias, Mário Frias, Heráclito de Vasconcelos, Oscar Alfredo Cox, João Carlos de Mello, Domingos Moitinho, Luís da Nóbrega Júnior, Arthur Gibbons, Virgílio Leite, Manoel Rios, Américo da Silva Couto, Eurico de Moraes, Victor Etchegaray, A. C. Mascarenhas, Álvaro Drolhe da Costa, Júlio de Moraes e A. H. Roberts.

Em razão da criação do Rio Football Club por João Ferreira, o novo clube, fundado por Oscar Cox, não poderia levar o mesmo nome. Logo, como todos aqueles que nascem no Rio de Janeiro são fluminenses, o novo clube destinado à prática do futebol foi batizado de Fluminense Football Club, que com a extinção do Rio Football Club é hoje a agremiação criada para a prática do futebol mais antiga do Rio de Janeiro em atividade.

OBS: Este artigo está originalmente no livro “De Oswaldo Gomes a Fred: a história do Fluminense Football Club no centenário da seleção brasileira

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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