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Quando tudo se torna racismo, o preconceito pode estar em você

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Acompanhei na última semana manifestações nas redes sociais em virtude da prisão do ator Vinícius Romão, de 26 anos. A maioria esmagadora das opiniões apontava que Vinícius era inocente, e que sua prisão por engano era um caso óbvio de racismo, já que o ator é negro.

Antes de emitir opinião como a maioria das pessoas fez, procurei ler sobre o ocorrido. Primeiro porque estamos em uma época de banalização do racismo, onde tudo que ocorre é levado para a cor da pele, e não para o problema em si. Depois, porque não conheço Vinícius, porque afirmaria que ele foi preso por engano? Como posso afirmar que alguém que não conheço é inocente. Porque ele é ator ou porque é negro?

Vinicius foi preso após ser reconhecido por Dalva Moreira da Costa, que pedia ajuda à polícia, após ser assaltada, momentos antes. O assaltante era negro, com cabelo Black Power, e vestia roupas escuras. Descrição que lembrava o biótipo e a vestimenta de Vinícius. É mais do que aceitável, que em estado de choque, com poucos recursos, na escuridão da noite, a vítima tenha se equivocado no reconhecimento ao assaltante. Dona Dalva reconheceu o erro dias depois e foi à delegacia dizer não ter certeza se Vinicius era mesmo o assaltante.

O caso foi tratado como um ato de racismo. Mas o assaltante em si era negro, e isso não mudará, ainda que não se trate de Vinicius. Não vou entrar no mérito da questão de que grande parte da corporação no Rio de Janeiro é formada por pardos e negros, menos ainda no fato de que isso ocorre com mais frequência do que deveria e em muitos casos com pessoas de pele branca.

Longe de mim acreditar que não existe preconceito racial, há e não somente o racial, há preconceito com diversos tipos de etnia, formas físicas, locais de nascimento, entre outros. Quando se fala apenas em racismo, deixamos de enxergar onde está o verdadeiro problema. Vinicius foi preso com violência por parte do policial, ainda que não apresentasse qualquer resistência à prisão. Não levava consigo os pertences roubados de Dona Dalva, logo, não poderia ter sido preso em flagrante.

O reconhecimento foi feito as pressas, à noite, no meio da rua. Não foram levados à delegacia, para que com calma, Dona Dalva pudesse tentar reconhecer ou não Vinícius entre outros suspeitos vestidos de forma igual. Vinicius não teve acesso a um advogado, e foi interrogado por um delegado  dentro de uma cela.

Com tanta arbitrariedade, a sociedade preferiu focar no preconceito racial, absolveu prematuramente Vinicius e condenou a vítima de um assalto, acusando-a de racista. Se Vinicius foi preso por racismo não podemos afirmar, mas posso afirmar com toda a convicção, que se ele não fosse um ator, com atuações em novelas da Rede Globo, ele ainda estaria atrás das grades, como acontece com muitos brasileiros, presos de forma arbitrária, sem a defesa de advogados, e da sociedade em redes sociais.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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Um comentário

  1. Perfeito!
    Só faltou lembrar que a pessoa que fez o “reconhecimento” e, por esse motivo, foi a causadora da prisão racista, foi uma senhora que, entre outros atributos, também é negra!

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