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Vaiar um Chefe de Estado não demonstra insatisfação e sim falta de educação

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O que vimos na estreia do Brasil na Copa do Mundo é apenas um reflexo do que já vemos nas redes sociais em ano de eleição. Diferente do que ocorreu na Copa das Confederações, onde os torcedores vaiaram o Joseph Blatter, presidente da FIFA e a presidenta Dilma, dessa vez o foco foi apenas a Chefe de Estado. A vaia por si só, já representaria falta de respeito e covardia, sim, porque escondido na multidão é fácil manifestar sua “indignação”, contudo, xingar em alto e bom som a presidenta em um evento mundial, na nossa casa, não é manifestação, é grosseria e falta de educação.

A democracia no Brasil ainda é muito recente, muitos fazem de partidos políticos o seu time de futebol, mas política não se faz com “clubismo”. Tanto faz o partido político do qual o Chefe de Estado é filiado, poderia não ser do PT, poderia ser do PMDB, do PSOL, PSDB ou qualquer outra legenda. Poderia ser uma mulher, como é a Dilma, ou então a Marina Silva, ou um homem, como o Aécio Neves, o Lula, O Fernando Henrique Cardoso ou o José Serra. Em todas as situações a minha opinião seria exatamente a mesma. Liberdade de expressão é bem diferente de estar escondido na multidão e mandar a Dilma “tomar no…”, não só é de uma estupidez solene, como também uma agressão injustificável. Não vejo motivos reais para tamanha insatisfação do povo para com a Dilma, tem seus erros e seus acertos, ao final do ano, a eleição responderá se a maior parte do povo brasileiro está satisfeita ou não com o seu governo, e se assim o for, nem adianta questionar os votos que a reelegeram, porque esse é o processo justo e democrático. A mesma população (sic) que xingou a Dilma, nunca xingou o Paulo Maluf, por exemplo. Outros políticos de fora do Estado de São Paulo, tão criticados como o José Sarney e o Fernando Collor, também não foram xingados, a maioria sequer vaiados.

A insatisfação se dá em virtude dos gastos com a Copa do Mundo? Então porque desta vez o Joseph Blatter passou em branco? Que direito um público formado por 36 mil pessoas que ganharam ingresso de cortesia para assistir a estreia do Brasil em um Estádio construído com o nosso dinheiro, orçado em R$ 890 milhões e que custou mais R$ 1 bilhão aos cofres públicos e foi “doado” a um time de futebol, dono de uma das maiores torcidas do País, a vaiar e xingar a Presidenta?

 Quem estava naquele Estádio e não pagou pelo seu ingresso, é no mínimo conivente com todo o esquema que envolveu esta Copa do Mundo, sequer entrou em uma fila de espera na página da FIFA na Internet. É o público VIP, o que melhor representa o “jeitinho Brasileiro” o famoso”quem indica”, pessoas que não precisam e ganham benefícios, normalmente os mesmos que criticam os programas assistenciais voltados para a parte mais pobre do povo brasileiro.   Os VIPs estavam ali no meio do circo vaiando e xingando o “dono” do espetáculo,  mas fazem parte dele, como público privilegiado, e não como os palhaços. Porque os palhaços pagaram por aquele estádio e ficaram de fora da festa, mas ao invés de xingar a presidenta, estavam comemorando os gols do Brasil País afora, muitos nas Arenas Fan Fest, criadas em todos os Estados, mas que também tem área VIP, para que alguns possam sempre ter o tratamento diferenciado que tanto gosta a elite do País. Claro, tem a área VIP, mas nem sempre tem o alvará dos bombeiros para funcionar, mas quem se importa? Não é mesmo?

O problema do Brasil como nação vai muito além da falta de investimentos suficientes em saúde e educação. Passa pela falta de bom senso, falta da consciência do que é realmente corrupção, que não é praticada somente por políticos, longe disso, está arraigada em quase todos os setores do País. Muitas vezes nosso problema está sim na educação, mas não naquela que aprendemos a escola, e sim aquela que deveríamos ter aprendido em casa, com os nossos pais.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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