Kindle paperwhite: Prático como você

Não, eu não vou alterar as cores do meu perfil no Facebook

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Às vezes eu fico com a impressão de que as redes sociais ajudaram a massificar pensamentos. Tanto faz se o assunto é político, social ou esportivo. Tenho sempre a sensação de que todos na minha timeline têm a mesma opinião, o mesmo ponto de vista (claro, tem vezes que se divide, mas não muito, metade pensa de um jeito e a outra pensa de outro). Bem, eu não tenho sempre a mesma opinião, costumo pensar por mim mesmo, o que normalmente gera comentários de que sou do contra, muitas vezes “apenas para parecer mais inteligente”, como já ouvi tantas vezes.

Não, eu não tenho prazer em ser do contra, e muito menos emito opinião própria para parecer mais inteligente que a maioria das pessoas. Mas será que todo mundo realmente se esforça para pensar por si só ou se deixa levar pelo que pensa o seu ciclo social sem se esforçar muito para pensar “fora da caixa”?

Nos últimos dias virou febre, todos estão colorindo as fotos de seus perfis, não somente no Facebook, com as cores da bandeira GLS, LGBT, ou qualquer outra sigla que você prefira. Temos muitas hoje para ilustrar o mesmo pensamento. O motivo? A suprema corte dos Estados Unidos aprovou o casamento gay em todos os estados do País. Não tenho dúvida de que a medida é um avanço, sou e sempre serei a favor de que todo cidadão tenha os mesmos direitos legais, independente de credo, etnia, condição social ou preferência sexual.

Ainda que considere um avanço, precisamos mesmo dessa comoção nas redes sociais? Dos cinquenta estados Estadunidenses, trinta e sete já praticavam o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Era uma questão de tempo ser permitido em todo o território do País. Sendo justo, a comoção não é somente nas redes sociais, é também na imprensa e em movimentos por aqui. Deve ser porque somos uma colônia cultural dos Estados Unidos, só isso explica, afinal, outros vinte e um Países, entre eles Portugal, Espanha, Holanda, França, Inglaterra, Argentina, Uruguai e pasmem o Brasil, já efetuaram tal mudança.

No Brasil, aliás, o casamento entre pessoas do mesmo sexo já é realizado na prática desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu a equiparação da união homossexual à heterossexual. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça decidiu que os cartórios brasileiros não podem se recusar a celebrar casamentos de pessoas do mesmo sexo em todo território nacional, assim como se recusar a converter união estável homoafetiva em casamento. Será que os brasileiros que comemoram nas redes sociais sabem disso? Porque não comemoraram de forma efusiva essas ações em seu próprio País?

Já li em algum lugar que a comemoração existiu, a diferença é que agora o Facebook criou um aplicativo que modifica as cores da foto no perfil. É pode ser, mas quando o Brasileiro quer, ele mesmo faz, não espera por ninguém, ou não se lembram de que há pouco tempo todo mundo mudava a foto do perfil, colocando-a “congelada” como acontecia com as cenas da novela Avenida Brasil? Pois é, eu lembro.

Nenhuma empresa seja ela o Facebook, o Boticário ou qualquer outra, está de fato preocupada com igualdade. Empresas visam lucro, quanto maior o for o público a ser atingido, mais elas vendem, e qualquer um que entenda um pouquinho só de mercado, sabe que o público gay consome muito e tem um grande poder aquisitivo de uma forma geral, e é nesse público que as empresas estão focando.

Por essas e outras eu não levanto bandeiras, não converto minha foto em uma bandeira. Defendo e sempre defenderei a igualdade, mas não serei usado por nenhuma empresa para gerar buzz, aumentando o valor de sua marca no mercado.  Vale ressaltar ainda que não acredito na luta por direitos iguais da maioria das pessoas que trocam suas fotos, porque eu vivo em uma sociedade preconceituosa, que na internet mostra uma realidade e fora dela se comporta de forma diferente.

Posta foto em apoio à igualdade, mas passa a semana sendo intolerante com aqueles que pensam diferente, com os que votam diferente, com os que têm fé diferente. Sempre se utiliza de termos homofóbicos para brincar com os amigos heterossexuais, como se ser gay fosse ofensa. Vejo isso todos os dias e por isso não compactuo com diversas coisas, entre elas com a hipocrisia.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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