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Pedras do Arpoador

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O dia amanheceu cinzento, uma chuva fina refrescava a cidade. Pessoas se espremendo por debaixo das marquises e uma guerra de guarda chuvas por entre os transeuntes. Enquanto caminhava para o trabalho, reparei em um rapaz que estava sentado no banco de uma praça, em Copacabana, a contemplar as gotas que caiam do céu. Como de costume, parei em uma padaria da Barata Ribeiro para tomar um café antes de prosseguir. Entre tantas pessoas que trafegavam para lá e pra cá, ele realmente chamava atenção por estar ali sentado, debaixo da chuva pensando em alguma coisa que o afligia.

Ostentava longas madeixas por sobre os ombros, tinha cerca de dezesseis anos, usava óculos desproporcional ao seu rosto, algumas pulseiras coloridas no punho e vestia o uniforme de uma escola próxima: Calça jeans, tênis e a camiseta com o emblema da instituição. A todo instante tirava o celular da bolsa a tira colo e olhava pra uma foto, que pela distância, eu não conseguia identificar o que era. Imaginava ser de alguma menina, alguém que representasse muito para ele. A chuva fina molhava seus óculos, e ele não parecia muito se importar com o fato de já não estar enxergando muita coisa. Sentia tristeza em seu olhar, e me lembrei de quando tinha sua idade.

Era comum me sentar por sobre as pedras do Arpoador e ficar contemplando o mar, em dias de chuva fazia o mesmo ritual, sem me importar com o tempo. Penso até que preferia os dias chuvosos aos dias de sol para ficar ali lamentando meus fracassos. Podia ser a tristeza por conta de uma prova mal sucedida ou um amor que partiu, o fato é que eu sempre estava por ali. Da bolsa tirava algumas fitas k7, e colocava para tocar em meu walkman. Ficava por horas, e precisava trocar as pilhas do aparelho por algumas vezes. Ali era, sem dúvida alguma, o meu lugar preferido na adolescência, onde levava as namoradas, tocava violão com os amigos e me lamentava sozinho quando as coisas não iam bem.

Sentia-me observando o passado enquanto olhava para aquele rapaz, podia entender suas aflições, seus medos e sua tristeza, e queria poder mostrar a ele, que tudo aquilo que vivia seria diferente em alguns anos, surgiriam novos problemas, novas tempestades e a única diferença é que ele estaria mais maduro, mais seguro para continuar de pé quando as ondas do mar batessem em seu corpo. As ondas seguirão tendo a mesma força, o impacto será o mesmo, a grande diferença estará dentro dele mesmo. Terminei o café e parti em direção à estação Arcoverde. Passei pelo rapaz e vi a menina que ilustrava a tela de seu celular, esbocei um leve o sorriso e segui meu caminho. Poucos metros à frente, decidi retornar e lhe dizer algumas palavras antes de partir:

“O tempo cura tudo, a chuva vai passar, os olhos vão secar e o sol vai voltar a bilhar lá fora. Uma hora vai voltar a chover, mas a cada chuva, você estará mais forte para se proteger da tempestade.“

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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