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Retornando ao Brasil do açoite

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Ontem tive acesso a uma fotografia que me deixou aterrorizado, não encontrei melhor palavra para descrever o que senti no instante em que a imagem apareceu na tela do meu computador, através de uma rede social. Antes de escrever sobre isso, busquei algumas informações sobre a origem da fotografia para evitar propagar falsas informações, como parece ser de praxe nos dias atuais.

A fotografia que ilustra esse texto foi tirada por Guilherme Santos, do site Sul21. O fotógrafo registrou o exato momento em que um ruralista, opositor ao ex-presidente Lula, açoita um membro do MST que participava da caravana do político pelo Rio Grande do Sul. A caravana, que vem percorrendo todo o Brasil sem maiores problemas, enfrenta protestos no sul do país, com bloqueios em Bagé e Santa Maria, confrontos entre militantes e até mesmo denúncia de ameaça de bomba. Reflexo de uma sociedade que recém conquistou seu direito à democracia e ainda não é capaz de aceitá-la.

Nós não podemos aceitar, que em pleno século XXI a intolerância nos leve a presenciar cenas como essa. O mais assustador disso tudo é que eu tive acesso à fotografia através das redes sociais, onde um “conhecido” comemorava a agressão, assim como comemora todos os passos da justiça que caminha para a prisão do ex-presidente, que lidera de forma absoluta a corrida presidencial, segundo todos os institutos de pesquisa. Como um ser humano é capaz de comemorar que outro de sua espécie esteja sendo açoitado, em plena luz do dia e sem maiores pudores, apenas por diferenças políticas? Não é de se admirar que acreditem ser normal a forma como nossa polícia trata pobres, negros, partos e quase brancos em nossas favelas, ou como se tratam os nossos presos, também pobres, negros, partos e quase brancos, nas masmorras medievais que chamamos de presídios.

A fotografia de Guilherme dos Santos me fez lembrar as obras Jean-Baptiste Debret, pintor francês que retratava um Rio de Janeiro escravagista do século XIX.  A obra reproduzida abaixo mostra o feitor açoitando o escravo negro, desarmado e indefeso, oprimido não só pelo sistema em vigor como também por sua condição.

O feitor não parece ser detentor de qualquer riqueza, apenas não se encontra na condição de escravo, mas açoita o outro em nome de uma elite que o explora, acreditando ser superior ao que está à sua frente.  O ruralista que açoita o membro do MST também não faz parte da elite que construiu seu império à base de sangue e suor do negro. A mesma elite que hoje encabresta votos para se manter como classe dominante, seja financeiramente ou intelectualmente.

Se reparamos bem, o feitor, pobre, pardo e nem tão quase branco assim, se assemelha fisicamente aos que hoje comemoram o açoite, incluindo aquele que compartilhou a imagem comemorando a violência contra os seus.

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Sobre Rodrigo Barros

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Empreendedor e escritor, Rodrigo Barros é bacharel em Biblioteconomia e em Sistemas de Informação, com pós-graduação em Gerência de Projetos e MBA em Gestão de Marketing. Fundador e editor chefe na Cartola Editora.

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Um comentário

  1. Robson Pereira dos Santos

    Lamentável! Só me vem a mente a célebre frase
    “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

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